Biblioled – Empréstimo de ebooks nas Bibliotecas Portuguesas (e cheque-livro)
A Lusa titula que a Biblioled, a aplicação de empréstimos de livros digitais e áudiolivros pelas Bibliotecas Portuguesas, emprestou quase 22 000 livros em menos de dois meses e que a Ministra da Cultura se questionou se haveria “maior interesse na leitura através do digital”, ao mesmo tempo que sublinhava que apenas 18% dos jovens com direito ao cheque-livro o tinha utilizado.
Eu ia apenas falar da Biblioled, mas achei a percentagem de uso tão baixa do cheque-livro que fui ao site ver as condições ou o que é necessário os jovens fazerem para usarem o cheque-livro.
Cheque-livro
O cheque-livro de 20€ é para cidadãos nascidos em 2005 e 2006. Para utilizar esse cheque é necessário ir ao site e fazer o registo através da autenticação com o Cartão do Cidadão ou da Chave Móvel Digital. Não sei se os jovens desta idade estão habituados a usar esta autenticação e, portanto, isto pode ajudar a explicar a baixa percentagem de uso. Haveria alternativas de verificação que minimizassem os passos que têm de ser dados do lado dos jovens?
Não sei como estão distribuídos aqueles 18% geograficamente, mas há distritos em que a vasta maioria dos concelhos não têm uma livraria aderente. É possível que não tenham uma livraria sequer, mas esta falta pode ser um problema (não vi no site do Governo indicação do cheque-livro poder ser usado numa livraria online, o que podia minimizar este problema).
Finalmente, e aquilo que me parece (ajudar a) explicar melhor a baixa percentagem de uso é que o cheque só pode ser usado para comprar um livro ou livros de preço igual ou superior a 20€. Sim, sim, leram bem. Se o livro custar 16€, 17€, ou 19€ e tal, o jovem tem de comprar um segundo livro e pagar o que faltar.
Como não há livros a 10€ ou 20€ certos, quem usar este cheque terá sempre de pôr alguma coisa do seu bolso. Eu não estou a ver nenhuma boa razão para não permitir a um jovem comprar um livro de 17€ com o cheque-livro de 20€. Quem não tem dinheiro para comprar um livro obviamente não vai usar este cheque porque implicará sempre gastar dinheiro.
E isto não me parece nada um incentivo à leitura, parece-me sim um incentivo às editoras e livrarias. Faz lembrar a publicidade falaciosa do “compra dois que fica mais barato”, que muitas vezes leva as pessoas a comprar e a gastar mais, porque não iriam comprar dois de outra maneira!
Biblioled
Sobre a Biblioled. Está a ser claramente um sucesso, apesar das grandes editoras estarem a boicotar este serviço (em dezembro, a APEL – Associação Portuguesa de Editores e Livreiros recomendava aos seus associados a não participação no projecto).
Não consigo perceber porque é que não há livros de determinadas editoras na Biblioled. Tanto quanto sei, as bibliotecas nunca tiveram de pedir autorização às editoras para comprarem livros dessas editoras para empréstimo bibliotecário. Aliás, isto iria contra o propósito da biblioteca, que deve ter a liberdade de curar e escolher o seu catálogo, independentemente da vontade da editora.
Sobre as declarações da Ministra, não me parece que o maior interesse seja por a leitura ser digital, mas sim porque o digital permite maior facilidade de acesso (é possível que fosse isto que a ministra queria dizer?). Ou seja, até agora as pessoas precisavam de ir a uma biblioteca, a um local físico durante a hora de trabalho, para requisitarem livros (excepção para cidades como Lisboa, que têm várias bibliotecas espalhadas pela cidade e algumas com horários ao sábado). Agora, podem requisitar livros a qualquer hora e em qualquer lugar.
Ou seja, se aumentássemos o número de bibliotecas e com horários alargados, certamente teríamos mais empréstimos de livros em papel.
Se quiserem experimentar a Biblioled, podem consultar este site. Se já estiverem registados numa biblioteca, podem enviar um email e pedir as credenciais. Se não estão registados em nenhuma biblioteca, procurem a que está mais próxima de vós (e que pertença à rede – há bibliotecas que não estão na Biblioled) e registem-se lá.